A Era de Ouro do Rádio no Brasil, 1930-1940
Entretenimento
Folhetim Radiofônico, "Jerônimo, o Herói do Sertão", 1953
A implantação desse meio de comunicação veio de norte ao sul do país para transformar e influenciar a vida das pessoas. Aqueles que não ouviam o rádio e não ficavam sabendo das últimas informações eram considerados fora da realidade, porque ao entrar em rodas de conversa não podiam comentar dos programas transmitidos pelo rádio, ou do novo cantor/cantora, com isso eram tachados de outsider.
Naquela época não existia televisão, computadores, telefones e celulares. As notícias demoravam a chegar e a chegada do rádio mudou totalmente essa situação de isolamento. Por meio desse aparelho, milhões de pessoas tiveram acesso às notícias, músicas, radionovelas, programas humorísticos, esportivos e variedades. Tudo numa velocidade jamais imaginada. Cantores e compositores encantavam multidões de norte a sul. Mulheres de todas as cidades acompanhavam as radionovelas. As conversas foram enriquecidas por informações que chegavam pelas ondas de rádio.
"O rádio é 'democrático', pois transforma os antigos interlocutores em meros ouvintes", 'para entregá-los autoritariamente aos programas das estações' (DUARTE, 2003, p.52).
Essa ferramenta de comunicação possibilitou avanços significativos em diversas áreas e setores, como:
Dramaturgia
A dramaturgia era um dos maiores e mais movimentados departamentos das emissoras de rádio. Todos os dias, milhares de pessoas acompanhavam as novelas, as histórias de mistério e de suspense, as peças de teatro e até programas de informações científicas pelo rádio.
Programa Humorístico
O rádio tem um papel fundamental no cenário cômico do país. O primeiro registro que se tem de um programa humorístico periódico é do “A Cascatinha do Genaro”, transmitido na Rádio São Paulo, e apresentado pelo personagem Zé Fidellis, de Gino Cortopassi. Ao longo do tempo foram surgindo outros, como “As Aventuras de Nhô Tonico”, “As Aventuras da Vila Arrelia”, “Chiquinho, Chicote e Chicória” e “Escolinha de Dona Olinda”, apresentado por Vittal Fernandes, um ícone do humor no rádio. Entre os mais famosos, estão “Balança mais não cai”, que se passava em um edifício, e “PRK 30”, com Lauro Borges e Castro Barbosa, que, numa suposta rádio pirata, faziam graça com outras transmissões radiofônicas e acontecimentos da época.
Na década de 40, apareceram as transmissões com Chico Anísio e Renato Murse e, em 1942, estreou o “Cassino do Chacrinha”. O humor foi mudando no rádio e muito do que havia no veículo foi levado para a televisão.
Zé Fidelis, um dos pioneiros do Humor Radiofônico Brasileiro
Jornalismo
Dois noticiários radiofônicos serviram de modelo para a transmissão de notícias nas rádios brasileiras a partir da década de 1940. A emissora mais importante do país, a Rádio Nacional, era a responsável pelo “Repórter Esso”. Na Rádio Tupi de São Paulo, as notícias chegavam pelo “Grande Jornal Falado Tupi”. Retransmitidos por outras emissoras do país, esses programas chegavam a milhões de ouvintes.
Música
As principais emissoras da época — como a Rádio Nacional, a Tupi e a Mayrink Veiga — contavam com elencos exclusivos de cantores e músicos. Dentre os programas de maior audiência durante o primeiro governo de Getúlio Vargas, destacam-se “Curiosidades Musicais”, “Um Milhão de Melodias”, “Instantâneos Sonoros Brasileiros” e “Vida Pitoresca e Musical dos Compositores”. Os programas de calouros, como “Calouros em Desfile” e “A Hora do Pato”, atraíam milhões de ouvintes.
Política
O rádio foi o primeiro veículo de comunicação a chegar às residências e aos locais de trabalho. Por causa de seu enorme impacto no dia a dia dos brasileiros, Getúlio impôs o controle das informações transmitidas pelo rádio durante o Estado Novo.
Nem tudo podia ser dito, e a forma de dar a notícia também era pensada com cuidado, para evitar que a voz da oposição chegasse aos brasileiros. Interesses políticos e comerciais sempre interferiram nos meios de comunicação.
Anúncios
Em 1932, Getúlio editou decreto permitindo a veiculação de propaganda nas rádios. Nessa mesma época, as primeiras agências de publicidade - norte americanas, em sua maioria - estavam se instalando no país. Como em seu país de origem, elas usavam o rádio para divulgar produtos como sabonetes, cremes dentais, remédios, produtos para o lar, alimentos, refrigerantes e bebidas em geral.
Logo, a queda no preço dos aparelhos receptores de rádio permitiu a mais famílias adquirir o produto. A audiência cresceu vertiginosamente. As emissoras passaram a dar mais atenção a esse novo público consumidor — muitas vezes formado por analfabetos — que se reunia em torno do rádio. Os programas procuravam agradar aos ouvintes, e as agências de publicidade investiam pesado, não só para vender seus produtos, mas também para difundir para os brasileiros nos valores e no modo de vida norte-americano.
O programa apresentava ao público a nova música brasileira da época. Participaram do programa artistas como Noel Rosa, Braguinha, Sílvio Caldas e o cartunista e compositor Nássara - autor do primeiro Jingle do Brasil, o da padaria Bragança.
Eram os novos produtos industrializados, como sabonete, cremes dentais, a coca cola e a aspirina. Para que os brasileiros fossem atraídos para essas novidades, contrataram empresas de publicidade dos Estados Unidos, que investiram nas emissoras comerciais financiando programas inteiros. O rádio foi um instrumento fundamental de mudanças de mentalidade e do domínio da indústria cultural norte-americana no Brasil.
Anúncio Inauguração - Rádio Nacional, 1940
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